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A primeira vez que vi a palavra coxinha ser utilizada como uma gíria (ou seja, não era para o salgado), foi para se referir a um policial. Lembro-me de ter estranhado muito na época (estava mais acostumado com “gambé”, “homi”), continuo estranhando até hoje e não a utilizo (por simples preferência mesmo). A origem de tal uso, porém, é bastante controversa. O que contarei neste post, como o que eu costumo fazer aqui, é a “lenda etimológica”. A preferência pessoal é o único critério para que eu prefira essa a qualquer outra teoria. Advertência feita, vamos à lenda.

 

A primeira das linhas narrativas da lenda diz respeito ao auxílio alimentação dos servidores públicos do estado de São Paulo. Como grande parte dos servidores públicos do estado trabalha em instalações que não possuem cozinha ou refeitório adequado e, como alguns funcionários, exercem suas funções na rua sem a possibilidade de voltar ao quartel general para fazer uma refeição, o estado de São Paulo (e outros também, claro) paga a seus servidores um pequeno adicional (chamado legalmente de auxílio alimentação e popularmente de vale-alimentação) para que o servidor pague por uma refeição em um restaurante. O valor de tal auxílio alimentação é proporcional ao valor do salário do servidor. Porém, como o salário da maior parte dos servidores estaduais não é muito alto, o vale alimentação de muitos servidores não é suficiente para pagar uma refeição completa em um restaurante. Tudo que se pode pagar com ele é um salgado. Uma coxinha. Por isso, os servidores se referem carinhosamente ao próprio vale como “vale-coxinha” (como pude constatar nos três anos em que atuei como professor da rede estadual de São Paulo).

 

A segunda linha narrativa dessa lenda conta que os policiais teriam recebido tal apelido pela frequência com a qual viaturas da polícia são vistas em frente a padarias e lanchonetes (locais onde se serve fast-food, logo, coxinha). Esse fenômeno é atribuído, é claro, primeiramente, ao fato de que devido às exigências da profissão de policial dificultam a realização de uma pausa para refeição, criando, portanto a necessidade de consumir uma fast-food (sinônimo de coxinha). Outra explicação para esse fenômeno é a prática, muito difundida, por parte dos donos de lanchonete e padaria de oferecer um agrado, na forma de dinheiro ou de cortesias em produtos (no caso, coxinha), para que os policiais despendam uma atenção especial ao seu estabelecimento oferecendo mais segurança ao estabelecimento e a seus clientes (essa prática está tão difundida que muitas vezes, os próprios policiais pedem ou esperam tal contribuição).

 

Somando esses três fatores nessas duas linhas narrativas: o baixo valor do vale alimentação, pouco tempo para alimentação e/ou a cortesia dos comerciantes e o fato é de que é comum ver policiais em lanchonetes e em padarias comendo coxinha. A partir daí, teria sido um pulo para que o nome do alimento passasse a designar aqueles que o consomem.

 

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