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Tenho para mim que algumas palavras são mundiais e podem ser entendidas por qualquer um, em qualquer lugar do mundo. São palavras mágicas pronunciadas mais ou menos da mesma forma (varia, é claro, de acordo com a facilidade ou dificuldade de determinado povo de pronunciar certos fonemas) e escritas sempre da mesma forma (pelo menos entre os povos de escrita românica). Exemplos de tais palavras mágicas seriam: taxi, hotel, bar, motel…(claro que eu não tenho nem certeza, nem evidência da verdade dessa afirmação. Por isso o texto foi iniciado com “tenho para mim”…).

 

Contudo, como já dizemos em postagens deste blog, a linguagem não é um código exato e imutável e sofre alterações culturais e históricas. Isso acontece até mesmo com tais palavrinhas mágicas, o que acaba por gerar engraçados estranhamentos. Afinal, que brasileiro ao assistir a Sessão da Tarde não fez aquela expressão estranha de “ué” quando a família em viagem pelos Estados Unidos resolve parar e passar a noite em um Motel…

 

Tal palavra, é claro, foi escolhida para aproveitar o ensejo da data. Já que ontem foi o dia dos namorados aqui no Brasil (12 de junho), data essa na qual os motéis ficam mais concorridos que lojas de brinquedos em véspera de natal…

 

A palavra “Motel” tem origem nos Estados Unidos nascendo da fusão das palavras “Motor” e “Hotel”. Tal palavra entra nos dicionários americanos na época da Segunda Guerra Mundial e passa a designar hotéis especialmente destinados aos motoristas. Como tais, apresentam uma grande área de estacionamento que, ao contrário dos Hotéis, é por onde se dá o primeiro acesso dos hóspedes. Ainda em oposição aos hotéis, os “motor hotels” não se localizam nos centros urbanos ou em áreas turísticas, mas à beira das estradas e longe do centro das cidades, para que possam ser usados como descanso e como alojamento de estadia curta – geralmente de uma noite – para os motoristas de passagem pela estrada.

 

Ao ser introduzido no Brasil, o termo motel foi traduzido como rotel (rotatividade + hotel), como referência a alta rotatividade e a estadia curta. Porém, tal tradução não pegou e a forma original, “motel”, acabou sendo aquela amplamente utilizada. Contudo, todo o restante do conceito foi alterado. No Brasil, motel tornou-se um estabelecimento de hospedagem cujo principal objetivo é manter relações sexuais. De tal modo, todo o conceito do estabelecimento foi modificado em relação ao conceito original. Tal como os motéis americanos, os motéis brasileiros também são localizados na proximidade das estradas, porém mais próximos às cidades (geralmente nos acessos à cidade), de forma a permitir uma chegada e uma partida discreta. O estacionamento também é o primeiro acesso de um motel brasileiro, porém, ainda na tendência de manter o acesso discreto, as vagas do mesmo tendem a ser privativas.

Ao contrário dos “privês”, contudo, os motéis não estão diretamente associados à prostituição e, de forma a atrair os casais, alterou o conceito de hospedagem simples dos originais americanos oferecendo uma série de atrativos e facilidades: vídeos eróticos, preservativos, banheiras de hidromassagem, piscina aquecida, iluminação adequada, chuva artificial, etc. A variedade de amenidades oferecida é imensa e aumenta cada dia mais na medida em que as mudanças da sociedade transformam a “descrição” em um fator cada vez menos decisivo para a procura de tal estabelecimento, sendo gradativamente substituída pelo oferecimento de recursos de luxo, conforto e erotismo que as pessoas normalmente não conseguem ter – por diversos motivos – em suas casas.

Com essa nova finalidade, os motéis brasileiros também alteraram o conceito de “estadia curta”. Ao invés de diárias ou pernoites, o alojamento é contratado por “períodos”. O intervalo de tempo de tais períodos varia de acordo com as instalações, dia da semana, horários, etc.

 

Além de todos esses serviços, alguns motéis brasileiros também oferecem opções de instalações com menos luxos em promoções especiais para viajantes em estadias curtas representando uma alternativa mais econômica em relação aos hotéis. Contudo, tal prática ainda não é a mais difundida, nem entre os motéis, nem entre os próprios viajantes.

 

Com o sexo encarado cada vez menos como tabu e com mais naturalidade, com a liberação sexual da mulher e com a enorme variedade de produtos, serviços e comodidades oferecidas, é fácil entender a existência de demanda por tal tipo de instalação de alojamento. Demanda que se torna selvagem em datas especiais como a de ontem (dia dos namorados). No ano passado, ouvi o relato de um amigo que esperou três horas no carro com a namorada para conseguir uma vaga no estabelecimento. Ainda, segundo o mesmo, teria sido muito difícil esticar a conversa por tanto tempo. Talvez, seja esse o maior desafio do negócio nos dias de hoje: elaborar um sistema de espera que seja confortável e não gere constrangimento…

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