Homossexualismo X Homossexualidade

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Embora as palavras sejam o meio através do qual a opressão e o preconceito se manifestam, se perpetuam e, por mais vezes do que gostaríamos, se oficializam, a alteração das mesmas pouco pode fazer pelo fim do preconceito ou para a conquista de direitos por partes de grupos minoritários. Os opressores acabam por dar um jeito de encontrar uma nova palavra, de criar um novo termo, ou pior, como pode ser visto nos últimos tempos no Brasil, acabar emulando o léxico e a forma de militância dos movimentos progressistas e usá-lo para atacar esses próprios movimentos com argumentos de um cinismo extremo.

 

Porém, algumas vezes, tais movimentos possuem excelentes argumentos pelos quais um termo deve ser abandonado em favor de um outro mais apropiado. É o caso da insistência do movimento gay pela troca do termo homossexualismo pelo homossexualidade.

 

O primeiro argumento – ou o mais utilizado pelos participantes de tal movimento – pelo abandono do primeiro termo (homossexualismo) em função do segundo termo (homossexualidade) é o de que o sufixo -ismo é utilizado para denotar doenças. Tal argumento era sempre rebatido com o fato de que embora o sufixo -ismo seja usado em algumas palavras que indicam doenças, a simples presença do sufixo não é o suficiente para configurar uma denotação de doença. Tome-se como exemplo as palavras: capitalismo, marxismo, catolicismo, espiritismo, etc.

 

Na verdade, esse argumento (a culpa é do sufixo) é apenas metade da reivindicação. O argumento completo se baseia na origem histórica. O termo foi cunhado no século XVIII por psicológos enquanto catalogavam a homossexualidade como doença. O termo foi cunhado de tal forma – homossexualismo – justamente para fazer oposição à sexualidade (considerada como) normal – a heterossexualidade. Portanto, o termo homossexualismo foi cunhado justamente para discriminar essa condição da sexualidade (então) aceitável. Esse era o termo que constava em 1952 no primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, tratando a homossexualidade como uma desordem. Esse era o termo usado para taxar os homossexuais e encaminhá-los para tratamentos de “recuperação” que, assim como muitos tratamentos psicológicos e psiquiátricos de algumas décadas atrás (e de alguns dessa década ainda), incluiam práticas nada agradáveis. Não é atoa, portanto, que o movimento gay reaja com tanta indignação diante do termo homossexualismo (contudo, muitas vezes o movimento gay age de forma não apropriada rotulando todo e qualquer usuário do termo homossexualismo como homofóbico. A grande maioria das pessoas desconhece o histórico do termo e a significância da derrubada do mesmo para a militância dos direitos dos homossexuais. Uma campanha cultural nesse sentido faz-se necessária…)

 

Não se trata, portanto, no caso dos termos homossexualismo e homossexualidade de discutir semântica. Trata-se simplesmente de derrubar um conceito científico ultrapassado e preconceituoso cunhado especialmente para diferenciar, excluir e segregar o “normal” do “anormal”.

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