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Parte 2 – Verdade, justiça e o modo americano

No post anterior, falamos sobre o novo filme do Superman – O Homem de Aço – e de um ingrediente essencial para que qualquer boa história de Kal-El. Tal ingrediente seria uma abordagem, independente de qual seja essa abordagem, da questão: “por que o Superman é bom?” (para mais detalhes, leia a parte 1). Antes, contudo, de discutir se o novo filme (de Snyder / Nolan / Goyer) aborda tal questão e, caso aborde, qual é sua resposta, devemos discutir por que o filme do Superman de 1978 (o Superman do Donner) é tão cultuado – por ser uma boa história do azulão – mesmo sem dar tanta atenção a essa questão (embora a sobrevoe em alguns momentos).

 

Isso ocorre porque durante um bom tempo (desde a criação do personagem em 1938 até o fim dos anos 70 – início dos 80), essa questão não era relevante. Nessa época o Superman lutava para proteger “a verdade, a justiça e o modo americano” e nem ele, e nem nós (ou pelo menos a grande maioria do lado de cá do muro de Berlim) tinha qualquer dúvida de que isso equivalia ao bem. Sendo Clark filho adotivo de Jonathan Kent, fazendeiro honesto e temente a Deus nascido e criado no Kansas, e filho biológico do cientista bom Jor-El, que nascera em outro planeta, mas, se era bom, acreditava nos ideais americanos, não teria alternativa que não fosse ser um ser humano exemplar. Um ser dotado de uma supermoral, afinal seus dois pais (o do céu e o da terra) haviam feito tudo certo.

 

Contudo, conforme a guerra fria foi avançando e caminhando para seu fim, começamos a duvidar de que o bem seria mesmo composto pela verdade, pela justiça e pelo modo americano. Na verdade, começamos até mesmo a duvidar da existência de um bem. Porém, para os fins desse texto – discutir os comportamentos do personagem ficcional Superman – nos concentraremos na definição de “bem” da primeira parte dessa série de posts (a saber: não se tornar um tirano ou imperador-deus da terra).

 

Até mesmo tais “ingredientes” passaram a ser questionados. A “verdade” foi se tornando cada vez mais relativa e mais plural, conforme foram aumentando os números de registros a respeito do mundo e de seus fenômenos. A “justiça” (no sentido da lei) têm se mostrado cada vez mais subserviente a interesses econômicos e políticos. E o modo americano, bem, esse vem sendo questionado pelo menos desde o movimento contra a Guerra do Vietnã, por estar se afastado cada vez mais do sonho dos pais fundadores ou, como diria o Comediante de Watchmen (outro excelente quadrinho de Alan Moore), por ter realizado esse sonho bem demais.

 

O Superman de Richard Donner, filmado em 1976-77 e lançado em 78, surge no início dessa transição de mudança no super-herói e, por isso, ainda que de forma rápida, aborda a questão sobre a moralidade e a humanidade do homem de aço. A cena principal dessa abordagem se tornou antológica e clássica, servindo de inspiração até mesmo para uma belíssima canção de Gilberto Gil (que nem mesmo viu o filme).

 

E você? Já sabe de qual cena estamos falando? Acha que a música de Gil faz jus à cena de Donner? Mais sobre essa cena e sobre o Superman, no próximo post.

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