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A traíra é um dos peixes de água doce mais comuns no Brasil, encontrada em quase todos os rios e lagos. Na verdade, a traíra é capaz de sobreviver em qualquer córrego ou fio de água. A traíra é um peixe carnívoro com preferência por lugares escuros, escondidos e de vegetação abundante. Pedaços de madeira, troncos caídos, lixo, todas essas coisas constituem ótimos esconderijos para as traíras.
Além de sua furtividade, a traíra é um peixe voraz, canibal e territorialista, o que, devido aos pequenos corpos d’água nos quais habita, o transforma em um perigoso predador e também em um peixe de difícil manuseio durante a pesca.

 

A traíra devido a sua imensa presença em quase todos os corpos d’agua e a sua carne saborosa é muito consumida pelos seres humanos. Porém, precisa passar por preparos especiais, pois os espinhos da traíra são menores do que os da maioria dos peixes o que torna difícil a sua identificação e retirada. Na verdade, tais espinhos são tão miúdos, que o processo mais popular consiste em bater a traíra até que seus pequenos espinhos estejam moídos e o peixe possa ser consumido praticamente como se nunca tivesse possuído tal estrutura cálcica.

 

Com base em todas as características citadas acima, é fácil entender porque a palavra que designa o peixe “traíra” passou a expressar traídor (além da vantagem já natural da semelhança fonética).

 

Um peixe que adora se esconder, é voraz, territorialista e que ataca a própria espécie é a metáfora perfeita para um traidor. Guardada as devidas proporções, o modos operandi e o ímpeto dos dois seres parecem idênticos. Além disso, mesmo depois de morta, ao ser consumida, se não se tomar cuidado, a traíra é perigosa, pois seus espinhos podem passar despercebidos e causar um engasgamento. Da mesma forma de que os planos e artimanhas do traidor podem surpreender uma vítima mesmo quando o mesmo não está presente ou não parece (mais) ser uma ameaça.

 

Não é à toa, então, que a gíria popularizou-se e deixou a muito tempo de ser coisa de conversa de pescador. Claro, que todas essas características são naturais à traíra, foi a forma pela qual ela evoluiu, é o papel que a natureza lhe encontrou, é o que lhe permite viver até mesmo nos menores cursos d’água onde a existência de qualquer tipo de peixe parece improvável. Porém, nos grandes lagos e rios da sociedade humana tais características são desnecessárias. Mais do que desnecessárias são desprezíveis e, porque não dizer, prejudiciais a evolução de toda a espécie.

 

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