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Como dito no post anterior, minha grande dificuldade em explicar para os gringos o que era o “Carnaval” passava, sempre, por ter que explicar que o evento não se resumia ao Carnaval da Sapucaí exibido pelas TVs mundo afora. Mas sim, que o Carnaval era um evento plural que tomava conta (ou, caso você fizesse parte da resistência, não tomava) conta do país todo. E que cada região, cada estado ou, melhor cada cidade do país tinha um jeito próprio e especial de comemorar esses quatro dias (Four days, man!!) de folia.

 

Mais do que isso, ainda criticava o famosíssimo carnaval do Rio de Janeiro. Dizia que embora estonteantemente belo, me parecia mais um espetáculo de cheerleader gigante (os gringos entendiam essa metáfora), um megaespectáculo da Broadway ou até mesmo uma gigantesca pintura em avenida. Enfim, o Carnaval da Sapucaí me desagradava por ser apolíneo demais e, para mim, o carnaval sempre foi uma festa que devia ser comemorada em estilo Dionisíaco.
Como oposição, falava sobe o trio elétrico e sua simplicidade. Coloque-se uma banda sobre um caminhão. A banda vai tocando conforme o caminhão anda em primeira marcha e o povo o segue, caminhando, pulando, dançando, em êxtase. Ao fim do trajeto de um trio (e também de seu show) basta passar a seguir outro trio e repetir o mesmo ritual de caminhar, pular e dançar em êxtase. Tem como ser mais dionisíaco do que isso?

 

Mas, por que o nome trio elétrico?

 

O trio elétrico nasce quando o bloco Carnavalesco Misto Vassourinhas, do Recife, é convidado para fazer um show no Rio de Janeiro no começo da década de 50. Como a viagem era longa, acabaram fazendo uma escala em Salvador, na Bahia. Como já estavam lá mesmo, foram convidados para fazer uma apresentação e concordaram. Porém, durante a, até então, bem-sucedida apresentação, um pequeno incidente acabou tirando do palco parte da banda. Vendo o cancelamento do show do bloco do Recife e a frustração do povo, Antônio Adolfo Nascimento e Osmar Alvares Mâcedo, dois estudantes de música eletrônica, resolveram colocar em prática seus malucos experimentos. Ligando um violão a bateria de um Ford criaram um princípio de guitarra elétrica, o que permitia que a dupla, Dodô e Osmar fizesse o barulho de uma banda inteira, e entrasse para a história como os míticos criadores do trio elétrico.

 

Porém, Dodô e Osmar eram apenas uma dupla. Somente, no ano seguinte, com a incorporação de mais um músico, Dodô e Osmar puderam ser chamados de trio elétrico. Esse trio fez tanto sucesso que o nome passou a designar todas as bandas elétricas que tocavam de modo semelhante (em cima de veículos) fossem elas quartetos, quintetos ou sextetos. Essa se tornou a forma de carnaval predominante na Bahia e o principal concorrente do carnaval do carioca.

 

Infelizmente, o carnaval baiano ao crescer como o carioca deixou de ser-lhe uma contraparte. Embora, ainda seja muito mais uma festa do que uma expressão artística, deixou há algum tempo (já quando eu assim o defendi em território italiano) de ser a maior festa popular do planeta. Abadás vendidos a preços de trajes de gala uniformizam e selecionam seus participantes, enquanto o povo é barrado por cordas nas calçadas, quando não muito antes de chegar as mesmas.
Se perguntado novamente pelos gringos: “E vai todo mundo?”; dessa vez, responderia “Só não vai quem não pagou!”.

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