As Primeiras Sensações de Uma Brasileira em Nova York

Leia o relato de Iasmin de Sousa, estudante de arquitetura e urbanismo e também uma de nossas alunas que nos conta suas impressões no cinco  meses que passou fazendo um curso em Nova York.

Estranho explicar o que vivi nesses cinco meses fora de casa, e como expressar com palavras alguns sentimentos que me acometeram nesses meses. Não posso falar que foram os melhores dias da minha vida, pois acredito que isso seria um pouco de pretensão, mas sem dúvida diria que foram os mais intensos.

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Tudo começou no aeroporto, por mais que todos falassem que os brasileiros eram e estavam sendo bem vindos aos EUA, passar pela imigração era a chance de pisar ou não em “Solo Norte-americano” e a primeira oportunidade de usar meu inglês que há alguns anos já vinha estudando. Porém foi tudo tão rápido que nem pude parar para pensar direito, as coisas aconteceram espontaneamente. Quando percebi já estava pegando as malas na esteira.

Meu primeiro dia em Nova York, sim eu lembro como se fosse hoje véspera de natal, um frio que é impossível explicar, para a Goiana acostumada com os 32 graus até 20 graus era frio, mas fazia 5 graus, estava vestida com 3 calças e umas 4 blusas além de um big casaco e estava parecendo uma ursa, literalmente e o frio entrava pelas “gretinhas” utilizando frase da minha vó que estava comigo. Paramos na estação do World Trade Center, perto de um pier aonde é possível observar a estátua da liberdade de longe, e perto da água a sensação térmica despencava. Não havia muitas pessoas nessa área, então o objetivo era apenas admirar a paisagem, que sinceramente tem uma beleza peculiar, quando fecho os olhos ainda me deparo com as minhas fotografias mentais. Em direção ao ponto turístico, a princípio eu era turista né! Ver a árvore de natal do Rockefeller, mais um tempinho no metro, me acostumando com o tal do Uptown e Downtown que para muitos é rotina, mas até hoje na minha cabeça só entrou se eu for pra cima eu vou para o Bronx, para baixo para o Brooklyn e para o lado direto Queens, incrivelmente essa imagem do mapa do metro ainda permanece intacta no meu subconsciente, ahh Manhattan, consigo ver as cores ainda, o azul, vermelho, amarelo, verde.

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Mas assim fomos em direção a tão famosa Times Square e de lá caminharíamos até o Rockefeller pela quinta avenida. Sinceramente foi um dos momentos de desespero na minha vida, eu nunca vi tanta gente junta, em um lugar só, querendo fazer a mesma coisa. A sensação que tive é que aquilo era um arrastão sabe, que todo mundo estava perdido e que o mundo inteiro tinha caído de para-quedas naquelas ruas e você ouvia de tudo ao mesmo tempo, uns falam espanhol, chinês, alemão, francês, italiano, português by Brasil e by Portugal, e incrivelmente tinha gente falando inglês também. Era gente de tudo enquanto é tipo, cor de pele, de cabelo, de roupa, de chapéu, sem chapéu, com blusa de frio sem blusa, quando falo isso é porque tinha uma mulher que estava só que biquíni, num frio de 5 graus. Enfim foi aí que eu entendi o que era New York e o que seria meus próximos meses. E realmente foi assim, cada dia, cada instante naquela cidade foram momentos inesquecíveis, conhecer pessoas do mundo inteiro e ter que se comunicar com elas, eu lembro da frase de uma amiga francesa que eu fiz “A cada dia você descobre pessoas aqui, e aí você tem que aprender a ler elas”, e foi isso que fiz… aprender a ler as pessoas, usando uma língua que nem é a sua língua natal.

“Uma das primeiras “loucuras” foi seguir uma chinesa e tentar ser amiga dela. Em momentos de crise você percebe que tem muita pouca coisa para perder. Caminhei com ela tentando conversar, e se meu inglês não com a melhor fluência possível, agora imagina tentar entender uma chinesa que estava aprendendo a falar inglês.”

Quando cheguei eu não tinha amigos ali, e de repente você se depara sozinha, em terra estranha e um mundo para descobrir, e esse foi o meu foco descobrir o que eu não conhecia. Uma das primeiras “loucuras” foi seguir uma chinesa e tentar ser amiga dela. Em momentos de crise você percebe que tem muita pouca coisa para perder. Caminhei com ela tentando conversar, e se meu inglês não com a melhor fluência possível, agora imagina tentar entender uma chinesa que estava aprendendo a falar inglês. Ela me levou a um dos lugares mais bacanas que acho em NYC – The High line, eu já havia lido alguma coisa sobre esse parque suspenso, mas nem lembrava que era em Nova York e ela me levou lá ficamos sentadas por volta de uma hora conversando, uma tentando explicar para a outra quem éramos, o que fazíamos e porque estávamos em NYC. Aquilo sinceramente foi lindo, entretanto estava muito, muito frio, meu nariz escorria, o olho dela se fechava todo pequenininho, ela não conseguia nem falar mais, porém eu não queria que aquele momento terminasse, ficamos uns 20 minutos caladas só observando a rua e vendo os carros passarem. Engraçado que depois desse momento eu devo ter ido nesse parque umas 5 vezes, em duas delas sozinha simplesmente para sentar no mesmo banco, comer donuts e ver os carros passarem.

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Momentos assim aconteceram com frequência, pessoas novas, histórias novas, momentos completamente inusitados, uma rotina inconstante surpreendente e até mesmo sozinha, derivando, andando e observando tudo ao redor, lojas, construções, museus, restaurantes e tantas outras coisas foram completando um ciclo cultural entre realidade e ficção. A é indispensável falar do “tempo” em NYC, uma das americanas que conheci me explicou que um dos motivos dela em ter mudado da Califórnia para NYC era a inconstância do tempo, que ela achava isso maravilhoso. No começo a única coisa que eu sentia era frio então isso não fazia muito sentido. Mas sentir frio e ver o sol brilhar “como se estivesse fazendo 40 graus” e o céu azul encantador é uma das coisas mais surpreendentes da vida e sim eu vivi isso. Contudo pude passar por essas mudanças drásticas de temperatura também, de um dia estar relativamente quente “para um dia de inverno” de repente a temperatura cair para – 3 graus abaixo de zero.  Isso é interessante e te faz viver com mais intensidade, o dia amanhã pode e não vai ser igual o de hoje, o cenário diferente, as pessoas mudam com isso. Pessoas tristes e preocupadas com o frio e depois sorridentes porque o central park não está embaixo de neve.

E mesmo com todos os meus preconceitos e barreiras sociais e linguísticas com os EUA, Nova York me ensinou que você pode aprender amar até o que você odeia, mas o principal é estar de coração aberto. E sim eu que julgava as pessoas que tinha uma camisa escrita “I S2 NY”, e comprei uma no dia de vim embora.

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