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Parte 2

Continuando o post anterior, a respeito de dois fatos interessantes relacionados à Copa do Mundo ocorridos no fim de semana (agora não mais no fim de semana passado, mas no fim de semana retrasado), falaremos, neste e no próximo post, da estreia da caxirola, que ficou conhecida de fato como a “Revolta da Caxirola”.

 

Revolta da Caxirola
Inspirado pelas vuvuzelas da Copa da África – que já eram uma tradição nos estádios locais* desde muito antes da realização do torneio da FIFA – o Ministério do Esporte do Brasil resolveu criar um instrumento oficial para a Copa do Mundo de 2014. Um instrumento com inspiração africana e indígena para exaltar nossas raízes. Um produto oficial e registrado para agregar valor à nossa Copa do Mundo. Um instrumento criado pelo músico multi-instrumentista, ligado à cultura africana e indígena, “tribalista”: Carlinhos Brown. Diante dessa proposta, não havia ninguém mais indicado. Enfim, parecia que não havia como dar errado. Mas, deu.

 

O primeiro sinal de que a caxirola não seria um sucesso unânime veio logo em sua apresentação oficial. Quando o chocalho de mão feito de plástico sustentável e materiais sintéticos foi apresentado e registrado junto ao Ministério do Esporte, representantes de grupos de preservação da cultura afro-brasileira, justamente uma das culturas que seriam homenageadas pela caxirola, lançaram pesadas críticas ao instrumento. Brown alega ter se inspirado no caxixi, um tradicional chocalho africano usado em rituais religiosos e que, no Brasil, passou a ser usado em rodas de capoeira, acompanhando o Berimbau. Tal inspiração estaria clara no próprio nome do instrumento oficial da copa. Contudo, os representantes das culturas tradicionais alegam que a invenção musical ultrapassou (e muito) a inspiração. Segundo tais representantes, ao registrar o produto sem o benefício das comunidades tradicionais, o Ministério do Esporte estaria permitindo que a propriedade intelectual de tais comunidades fosse explorada sem que elas recebessem qualquer benefício por isso. Exatamente o contrário do propósito original do instrumento. O Ministério do Esporte ignorou as críticas e registrou o produto. Mais do que isso, financiou o desenvolvimento e a produção do instrumento oficial da Copa do Mundo (e da Copa das Confederações) no Brasil.

 

Outro estranhamento foi causado quando os direitos de produção foram vendidos a uma multinacional norte-americana. É claro que não existe nenhum problema em obter lucro com sua própria criação. Porém, não foi esse o discurso proferido quando o projeto da caxirola foi encomendado, quando o instrumento foi registrado ou quando sua criação foi financiada. Além disso, como citado acima, é questionável o quanto a caxirola teria sido realmente uma criação do músico baiano.

 

Mesmo com todos esses estranhamentos, a caxirola foi em frente até o dia de sua estreia. O jogo de estreia da caxirola (ao contrário do jogo da “estreia do Maracanã”) não podia ter sido mais bem escolhido. O grande clássico da Bahia, Vitória x Bahia, terra de Brown e de muitos outros músicos e grupos de música afro-brasileira, no reformado estádio da Fonte Nova. O instrumento foi distribuído para os torcedores que compareceram ao evento, seu uso foi demonstrado por seu criador e por um grupo de percussionistas antes do início da partida, o hino nacional foi cantado ao som do instrumento… Enfim, tudo pronto para a estreia em grande estilo da “vuvuzela brasileira”. Porém, em uma reviravolta (ou melhor, chacoalhada) do destino, as coisas deram errado.

 

O como, o porquê e mais estranhamentos a respeito da caxirola e da Copa do Mundo no próximo post.

 

*Sim, ao contrário do que muita gente acredita as vuvuzelas não foram uma moda criada na África do Sul para a Copa do Mundo. Elas chegaram aos estádios de futebol na década de 90 e continuam a ser usadas até hoje, mesmo com toda a superexposição e críticas recebidas durante a Copa do Mundo, quando ganharam notoriedade mundial. O fenômeno é tão entranhado na cultura futebolística do país que as principais torcidas dos principais times possuem vuvuzelas com cores específicas. Duvida? Sente saudades? Está curioso? Faça uma visita à África do Sul e entre o passeio por um ou outra de suas estonteantes belezas naturais aproveite para ver um clássico entre Kaizer Chiefs e Orlando Pirates. Aproveite e faça um curso de inglês em Porto Alegre, antes de embarcar, para não correr o risco de escolher a vuvuzela errada.

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