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Amor, álcool e microfone

 

Muito antigamente escrevia-se poemas (copiava-se um clássico, quase sempre), enrolava-se o papel em forma de um pergaminho, lacrava-se com a cera de uma vela moldada pelo anel com a insígnia da família e contratava-se um mensageiro para levar a mensagem a pessoa amada.

 

Um pouco menos antigamente, chamava-se amigos fiéis com banjos, flautas e violões e cantava-se sob a janela. Fazia-se a “serenata”, que por derivar de sereno, céu noturno limpo, ou seja, no qual se pode ver a lua, só podia ser feita em noites de lua. Embora sua exata causa mortis seja uma dúvida (suspeita-se da lei do silêncio, das janelas cada vez mais altas, do desperdício de água que representava uma serenata não apreciada e o aumento da potência dos sons automotivos), não é dúvida o fato de que a serenata morreu.

 

Então, como fazer agora para usar as palavras de outrem para declarar nossos sentimentos? Teriam os novos tempos de relacionamentos fluídos, de homens e mulheres liberados, acabado com essa prática? Muito pelo contrário. Apenas as formas mudaram. Agora, colocamos o link das canções do Youtube no srapbook dela do Orkut ou no mural do Facebook. Para demonstrações ao vivo, é claro, sempre existe o videokê.. (note que o videoke está sempre presente em locais onde existem bebidas alcoólicas disponíveis: bares, churrascos…. etc)..

 

Por isso, como parte da tetralogia do amor, resolvi homenagear essa prática e comentar as melhores palavras de outrem (canções) para se utilizar de forma a melhor expressar sentimentos românticos.

 

10 – Eu assim sem você – Letra simples e cheia de referências pop. Ideal para casais que fazem o estilo “fofo”, cheios de apelidinhos carinhosos. Especialmente, é claro, na versão de Adriana Calcanhoto (menos dançante e ainda mais “fofa”).

 

09 – Façamos – Versão em português da absolutamente clássica “Let’s do it, let’s fall in love” de Mr. Cole Porter. A versão é quase perfeita e com trechos inspiradíssimos (“as taturanas fazem/com ardor incomum”). O imperativo na primeira pessoa do plural, Façamos, faz diminuir a sensualidade marota do refrão. Mas, nada que as dezenas de palavras de duplo sentido utilizadas no restante da letra não deixem mais do que transparecer. Ideal é claro, para expressar sensualidade marota.

 

08 – Pareço um menino – Fábio Jr forma ao lado de Wando e Sidney Magal a santíssima trindade dos Don Juans da música brasileira. Essa canção deixa claro o porque. “A gente briga, mas é coisa que acontece…

 

07 – Fogo e Paixão – Já que falamos nele… essa canção de Wando é uma das mais conhecidas da música brasileira, todo mundo conhece, todo mundo sabe cantar. Todos a rotulam de brega, mas ninguém resiste a seu pitoresco charme kitsch. Juntando o refrão que conta a história de uma paixão para lá de ardente (“Quando tão louca me beija na boca e me ama no chão”) ao sugestivo fato de que o Wando é sabidamente um colecionador de calcinhas… pra quem não se importa com sutilezas?

 

06 – Disritmia – Essa é a canção para os bravos. Feita para aqueles que não dispensam um choppinho com os amigos (sem a esposa) depois do expediente ou nos finais de semana. Ofereça, vem logo, vem curar seu nego que chegou de porre lá da boemia, e reze para que a tal cura não envolva um rolo de macarrão.

 

05 – Beija eu – Talvez seja o único caso em que um erro no uso de um pronome resultou em algo esteticamente agradável. Muito agradável devo dizer. Boa pedida para cantar a uma relação mais despojada.

 

04 – Todo amor que houver nessa vida – A grande canção de amor de Cazuza e Roberto Frejat. Os dois conseguiram adaptar o sentimento do amor idílico à contemporaniedade.

 

03 – Mania de você – Outra canção de sensualidade marota. Mas, essa canção combina a sensualidade marota com uma belíssima e criativa declaração de amor.

 

02 – Cavalgada – Seria a primeira colocada se o ranking fosse das canções mais sensuais. Ainda mais com esse arranjo ao vivo em que a melodia vem em um crescendo para simular uma noite de amor.

 

01 – Valsinha – Chico Buarque e Vínicius de Moraes escreveram a música que eu e Martinho da Vila gostaríamos de ter escrito. Uma valsinha simples, tímida, delicada e singela. Com clima de cidade provinciana. Uma Valsinha para ser dançada e cantada na praça da Matriz.

 

Bom, essas são apenas minhas sugestões. Muitos “outrens” usaram belas palavras em português de forma ainda mais bela. O importante é, caso for expressá-las ao vivo, encha-se de coragem (uns três copos, mais ou menos) e solte sua voz pedindo para que todos, ou ao menos sua amada (o), entendam que isso é apenas um dos jeitos de dizer o que é amar.

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