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Em 25 de julho de 2004 foi firmado o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que nessa época já não era tão novo, uma vez que essa era na verdade a segunda ratificação de um acordo ratificado pela primeira vez em 1998, escrito em 1990 e que nunca tinha chegado a ser verdadeiramente “acordado” e, portanto, nunca fora implantado. Porém, dessa vez, em 2004, o foi.
A cerimônia oficial foi realizada em Lisboa, Portugal, e teve a presença de representantes dos seguintes países, falantes de português, que passaram a fazer parte do acordo: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Tal acordo tem como objetivo unificar a grafia oficial, mas não a pronúncia, de todos os países falantes de português. Na verdade, embora assinado por vários países, tem como principal objetivo estabelecer uma grafia única entre o português europeu e o brasileiro (já que Portugal, ao colonizar os outros países, já tinha mais experiência e foi mais eficiente na fixação da língua que é praticamente a mesma).

Além da inveja do espanhol (falado em mais países e já contando com uma grafia oficial unificada), o principal motivo desse acordo parece ter sido facilitar a importação/exportação de documentos, livros e outros materiais culturais. O que evitaria que livros brasileiros tivessem que ser adaptados antes de serem lançados em Portugal e vice-versa. O que, talvez, seja um grande exagero, já que nós, brasileiros, somos capazes de entender perfeitamente um texto em português europeu (é claro, pode soar antiquado – como um papo do seu bisavô em um jogo de bocha – ou engraçado – como o seu Manuel da Padaria, mas que pode ser entendido, pode…).

O acordo foi muito criticado pelas bandas de cá (por ser desnecessário, por não ser realmente “unificador” dado que algumas grafias duplas – fenómeno/fenômeno, aritmética/arimética, amnistia/anistia – continuarão a existir), mas foi ainda mais criticado pelas bandas de lá (mesmo Portugal tendo sido o primeiro país a assinar o acordo), com direito a protestos públicos, manifestações de intelectuais, etc. Não se deve acreditar, contudo, que os portugueses criticaram mais o acordo por serem mais engajados que os brasileiros, mas sim porque as mudanças serão muito maiores do lado de lá. Como o acordo, quando se propôs a eliminar as grafias múltiplas, baseou-se no critério da simplicidade, a grande maioria das grafias que prevaleceram eram aquelas do português brasileiro (porque, nós, talvez guiados por nossa malandragem, já havíamos aplicado tal critério há muito tempo). Mesmo tendo muito mais tempo do que os brasileiros se adaptarem (3 anos a mais), o que é justificável devido ao maior número de “mudanças” ortográficas pelas quais terão que passar, os portugueses continuam reclamando e protestando.
Não consigo deixar de ligar toda essa resistência de alguns portugueses ao acordo à mentalidade colonial. Talvez, para muitos, no fundo o novo acordo ortográfico surja no imaginário como o índio ensinando o jesuíta a escrever. Ao contrário dos ensinamentos zen, nem todos os mestres veem beleza em serem superados pelos seus discípulos. Nem todos os professores, apesar do discurso politicamente correto, acham valoroso “aprender cada vez mais” com seus alunos. Mesmo que a questão não chegue nem a ser semântica, sendo apenas gráfica ou melhor, ortográfica.

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